O Redentor dos homens

24/09/2010 20:36

 

Tomar conhecimento da linha programática do chefe visível da Igreja, é de uma importância indiscutível. Mesmo os não católicos se interessam por ela, dada a força moral da Santa Sé. 

Quanto a nós, é estar informado dos rumos que o Pastor Supremo, em nome de Deus, dá à sua grei. Então, cada Bispo examina os próprios rumos, desejoso de estabelecer uma comunhão perfeita recebendo, assim, a indispensável garantia à suas atividades apostólicas. Os demais membros do Corpo Místico, comparam as atitudes e posições conforme o indicado pelo Sucessor de Pedro.

Morre um Pontífice, vem um outro, mas o encargo é idêntico. A autoridade é a mesma, enquanto a maneira de exercê-la pode variar. As épocas diferem entre si, os problemas se alteram, exigindo diretrizes precisas para o momento presente. Junto à imobilidade do depósito da fé há um fecundo crescimento, revelando novas riquezas e aplicando verdades eternas a uma realidade cambiante. Eis a grande missão do Magistério, de modo particular o de Pedro.

Essas considerações mostram claramente a significação profunda da carta encíclica “Redemptor Hominis”, “O Redentor do Homem”, com data de 4 de março de 1979. Esta é a segunda da trilogia que estamos estudando. Traça linhas mestras que constituem os fundamentos do seu Pontificado. Segundo anunciou, escreveu-a de próprio punho e é fruto de uma reflexão pessoal. Lendo-a penetramos em seu interior, conhecemo-lo intimamente tomamos ciência de orientações que têm valor excepcional para os católicos. Recordamos de modo especial as palavras do Mestre: “Quem vos ouve, as mim ouve ...” (Lc 10,16).

Que diz o Santo Padre? Como devemos ler esse documento oficial?

Cristo é o alicerce de toda a doutrinação exposta. Os assuntos recebem Sua iluminação, enquanto é o Redentor dos homens. A problemática que aqui é apresentada em um estilo direto, sem tergiversações, está nitidamente dentro de uma dimensão da Fé. Declara ele no exórdio: “O Redentor do homem Jesus Cristo é o centro do cosmos e da história”.

Na introdução, relaciona-se com os antecessores, com a comunidade eclesial, Bispos, sacerdotes, religiosos e leigos. Alude à Unidade tão desejada pelo Senhor. A seguir, afirma pontos de doutrina, cuja solidez é indispensável para que se possa edificar, com tranquilidade, uma autêntica antropologia. Assim os variados aspectos humanos e as questões que afetam nossa existência são vistas à luz do Evangelho.

Tudo no plano temporal e eterno preocupa o Pontífice, mas sempre e unicamente do ponto de vista religioso: “Assim, o objetivo de qualquer serviço na Igreja, seja ele apostólico, pastoral, sacerdotal ou episcopal é o de manter este liame dinâmico do mistério da Redenção com todos e cada um dos homens” (nº 22). O Salvador é o centro de gravitação: “A única direção da inteligência, da vontade e do coração para nós é esta: a direção de Cristo, Redentor do Homem” (nº 7).

A partir dessa premissa, trata do Redentor, continuado vivo na terra em seu Corpo Místico: “A Igreja permanece na esfera do mistério da Redenção, que se tornou precisamente, o princípio fundamental de sua vida e sua Redenção, que se tornou precisamente, o princípio fundamental de sua vida e sua missão” (nº 7 – “in fine”). Nesta perspectiva, o Papa João Paulo II coloca a luta em favor da humanidade e seus direitos: “A tarefa fundamental da Igreja (...) ajudar todos os homens a ter familiaridade com a profundidade da redenção que se verifica em Cristo Jesus” (nº 10). Então, “a própria dignidade da pessoa humana torna-se conteúdo” (nº 12) da própria evangelização.

Sobre esta base, surge o capítulo terceiro, cujo título é “O Homem remido e sua situação no mundo contemporâneo”. O quarto, “A missão da Igreja e o destino do homem”, inclui uma série de temas concretos. Vai da Eucaristia e Penitência ao trabalho dos teólogos, que “não podem afastar-se da fundamentação da unidade do ensino da Fé e da Moral” (nº 19). Insiste no “dever de uma rigorosa observância das normas litúrgicas” (nº 20). Defende a “prática da confissão individual, unida ao ato pessoal de arrependimento e ao propósito de satisfazer” (nº 20), a indissolubilidade do matrimônio e o celibato sacerdotal (nº 21).

Encerra o Santo Padre esta Encíclica com piedosa alusão À Virgem Maria. O número 22 do documento, assim começa: “A Mãe da nossa confiança”. A designação revela plenamente seu conteúdo. Reconhece “que ninguém mais, como Maria, poderá introduzir-nos na dimensão divina e humana deste mistério” (nº 22).

A outra pergunta formulada é como ler essa notável Encíclica. Em vez de acomodar o texto ao nosso gosto, preferência, posições, tendo-o no coração e inteligência acertemos nosso rumo às normas nela traçadas por quem fala em nome do Divino Mestre.

Comparemos a matéria em seu conjunto, com as notícias que lemos e interpretações dadas. Concluir que devemos ficar com o Papa e não com os autores de certos comentários parece ser óbvio.

A Igreja e o homem assumem extraordinárias dimensões, na “Redemptor Hominis”, que promove a consciência de deveres e de direitos decorrentes da própria Cruz Salvadora. Cristo veio iluminar a História e abrir dimensões sempre novas no relacionamento de indivíduos entre si, de povos e nações.

Este documento de João Paulo II, estudado e refletido, constitui excelente preparação para o entendimento mais profundo do mistério da Morte e Ressurreição, suas consequências para nós e toda a humanidade.