A Palavra de Deus

20/11/2010 08:20

 

“A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja” foi o tema da XII Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, realizada entre os dias 5 e 26 de outubro de 2008. O documento que traz as suas conclusões, denominado Exortação Apostólica pós-sinodal “Verbum Domini”, foi assinado pelo Santo Padre Bento XVI no dia 30 de setembro e divulgado no dia 11 de novembro de 2010.

A relevância do tema estudado no sínodo faz jus à profunda reflexão apresentada no documento, dividido em três partes: a primeira, “Verbum Dei”, está dividida em três capítulos nos quais se destaca o papel de Deus Pai, fonte e origem da Palavra; a segunda, “Verbum in Ecclesia”, também dividida em três capítulos, cujo enfoque é Igreja como lugar da Palavra de Deus; e a terceira parte, “Verbum mundo”, dividida em quatro capítulos, destaca a missão da Igreja e de cada cristão no anúncio da Palavra de Deus.

Na introdução, o Papa Bento XVI ressalta que a experiência do sínodo foi um encontro com Cristo, “Verbo do Pai, que está presente onde dois ou três se encontram reunidos em seu nome (cf. Mt 18,20)” (n.1). Nesse sentido ela foi um testemunho da comunhão eclesial e uma exortação a que “todos os fiéis redescubram o encontro pessoal e comunitário com Cristo, Verbo da Vida que se tornou visível, fazendo-se seus anunciadores para que o dom da vida divina, a comunhão, se dilate cada vez mais pelo mundo inteiro” (n.2). Continua o Santo Padre: “As conclusões do Sínodo influem eficazmente sobre a vida da Igreja: sobre a relação pessoal com as Sagradas Escrituras, sobre a sua interpretação na liturgia e na catequese bem como na investigação científica, para que a Bíblia não permaneça uma Palavra do passado, mas uma Palavra viva e atual” (n.5).

O estudo da Exortação Apostólica pós-sinodal dá-nos a oportunidade de acentuarmos em nossa vida o amor pela Palavra de Deus, de conhecermos a sua história e como chegou até nossos dias.

Todo conteúdo da Sagrada Escritura é fundamento da revelação. Chegou até nós mediante pessoas escolhidas e que, em sua missão, gozam da garantia de veracidade, preservação de erro. Durante um longo período de muitos séculos, foram escrevendo, em estilo próprio. O autor sacro pode ter redigido por inspiração direta de Deus, como também utilizando verdades já reveladas anteriormente. Em qualquer caso, fica sempre preservado o caráter próprio daquilo que o Senhor determinou fosse transmitido às gerações vindouras. “Por isso mesmo se deve acreditar que os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro a verdade que Deus, para nossa salvação, quis que fosse consignada nas sagradas Letras” (n.19).

Há uma progressiva unidade na transmissão do plano de Deus, na variedade de estilos, diversidade de relatos. O conjunto forma um todo que tem uma uniformidade de objetivo. Todo o Antigo Testamento é uma preparação à vinda de Jesus Cristo, que realiza e perpetua na Igreja as promessas feitas aos nossos pais e ao Povo eleito. Escreve o Santo Padre respeito: “É estupendo observar como todo o Antigo Testamento se nos apresenta já como história na qual Deus comunica a sua Palavra: de fato, ‘tendo estabelecido aliança com Abraão (cf. Gn 15, 18) e com o povo de Israel por meio de Moisés (cf. Ex 24, 8), revelou-Se ao Povo escolhido como único Deus verdadeiro e vivo, em palavras e obras, de tal modo que Israel pudesse conhecer por experiência os planos de Deus sobre os homens, os compreendesse cada vez mais profunda e claramente, ouvindo o mesmo Deus falar por boca dos profetas, e os difundisse mais amplamente entre os homens” (n.11).

O Santo Padre, mais adiante, se detém sobre o papel do Espírito Santo na inspiração e compreensão autêntica das Escrituras Sagradas. O mesmo Espírito que as inspirou continua, até ao final dos tempos, a velar pela integridade da obra e assegurar sua legítima interpretação. Diz o Papa: “O mesmo Espírito que falou por meio dos profetas, sustenta e inspira a Igreja no dever de anunciar a Palavra de Deus e na pregação dos Apóstolos; e, enfim, é este Espírito que inspira os autores das Sagradas Escrituras (...) Sem a ação eficaz do ‘Espírito da Verdade’ (Jo 14, 16), não se podem compreender as palavras do Senhor. Como recorda ainda Santo Irineu: ‘Aqueles que não participam do Espírito não recebem da sua mãe [a Igreja] o alimento da vida; nada recebem da fonte mais pura que brota do corpo de Cristo’” (n.15.16).

A complexidade de uma obra elaborada através de tantos séculos e em diversas culturas exige, para sua adequada e reta compreensão, comentários que tornem inteligíveis não poucas passagens. É necessária uma constante cautela para não sermos conduzidos a ensinamentos que nos afastam de Cristo. Afirma o Santo Padre: “o lugar originário da interpretação da Escritura é a vida da Igreja. Esta afirmação não indica a referência eclesial como um critério extrínseco ao qual se devem submeter os exegetas, mas é uma exigência da própria realidade das Escrituras e do modo como se formaram ao longo do tempo” (n.29).

Aproveitemos a publicação da Exortação Apostólica “Verbum Domini” para reavivarmos nosso amor à Sagrada escritura, cultivarmos o silêncio para meditá-la, como exorta o Papa ao final do documento, e para imitarmos o exemplo de Maria, que, pela fé, acreditou e acolheu a Palavra de Deus (cf. Lc 1, 45).