Atmosfera eclesial

16/07/2010 20:19

 

O Santo Padre João Paulo II publicou a 2 de dezembro de 1984 uma Exortação Apostólica, fruto da VI Assembléia Geral do Sínodo dos Bispos. Intitula-se “A Reconciliação e a Penitência na Missão da Igreja hoje”.

Nos dias atuais, é importante recordarmos esse documento que trata desses dois temas valiosos e os apresenta ao homem moderno com um convite à aceitação de uma Doutrina e Disciplina daí decorrentes. Também examina, por miúdo, os remédios, após verificar a raiz profunda dos males subjacentes, pressupostos ou correlacionados.

Ao que ele chama “um mundo despedaçado” (nº 2), antepõe o fato de existir “uma verdadeira nostalgia da reconciliação, mesmo quando não é usada tal palavra” (nº 3). Destaca a “estreita ligação interna que une conversão e reconciliação: é impossível dissociar as duas realidades” (nº 4). E conclui: “A conversão pessoal é o caminho necessário para a concórdia entre as pessoas” (idem).

O conteúdo divide-se em três partes. A primeira aborda a missão confiada por Cristo: “A Igreja é, por sua natureza, sempre reconciliadora” (nº 8). A segunda aponta “a causa radical de todas as dilacerações ou divisões entre os homens e, antes de mais, em relação com Deus: o pecado” (nº 4). A terceira ocupa-se dos meios em ordem a alcançar a concórdia.

Essa visão panorâmica da Exortação Apostólica repete o convite do Salvador: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Em face de tantos contratempos e sofrimentos, o Papa reafirma o primado dos valores sobrenaturais, na busca de soluções autênticas. Ressalta a importância do espiritual para dissipar a angustiosa atmosfera que nos asfixia. Continua verdadeira a afirmativa de ser a fome de Deus ainda maior que a do pão material, que aflige a milhões de irmãos nossos.

Nessa perspectiva, o cristão não se sente alheio aos problemas terrenos. Ao contrário, a partir da Fé, vê-se mais comprometido, pois a pressão para solucioná-los lhe advém do próprio Mestre.

A seção inicial do documento se desenvolve sob o título: “Conversão, reconciliação: tarefa e compromisso da Igreja”.

A parábola do “filho pródigo” (Lc 15,11-32) nos fala exatamente da raiz das divisões: o egoísmo do irmão em contraste com a generosa atitude paterna. E proclama o triunfo sobre os males, através da conversão do coração. É este o caminho da vitória sobre “a injustiça, a prepotência ou a exploração de outrem, o apego aos bens materiais ou a busca desenfreada do prazer” (nº 8).

Em seguida, atesta ser “o amor maior do que o pecado”. O homem, ao reconhecer-se culpado, abre as portas da misericórdia divina. O ato de revolta contra Deus é algo de pessoal, mas repercute nos outros. Esta verdade impede que lancemos, pura e simplesmente, a causa das próprias falhas sobre as estruturas sociais, sobre os sistemas. Tão só na medida em que os fatores internos e externos afetam, em maior ou menor grau, a liberdade, é que atenuam a responsabilidade e o delito.

O Santo Padre recorda o ensino tradicional “acerca da existência e da natureza dos pecados mortais e venais” (nº 17). Na sociedade que busca esquecer tudo que se opõe ao prazer, continua viva e atual a advertência de Pio XII: “O pecado do século é a perda do sentido do pecado” (nº 18).

Intitula-se a terceira parte: “A Pastoral da Penitência e da Reconciliação”.

A catequese e os sacramentos, especialmente a confissão, são os grandes meios para que a Igreja cumpra a sua missão salvífica e corresponda às exigências e necessidades espirituais dos homens de todos os tempos. Aí está incluído o diálogo com o mundo moderno, marcado profundamente pelo secularismo. Igualmente, urge a reta formação de consciência, a proclamação dos Novíssimos – morte, juízo, inferno, paraíso – e o cuidado para evitar que alguém “consciente de estar no pecado mortal, por mais contrito que se julgue, se aproxime da Sagrada Eucaristia antes da confissão sacramental” (nº 27).

No final, a Exortação Apostólica aborda toda uma série de normas práticas: esclarecem elas verdades meio esquecidas, corrigem abusos, estimulam o retorno ao confessionário.

O poder de perdoar: “A quem perdoardes os pecados ficar-lhe-ão perdoados” (Jo 20,22; Mt 18,18) constitui “uma das mais fundamentais novidades evangélicas!” (nº 29). Essa afirmativa faz ressaltar a figura do confessor. Trata-se de um ministério difícil e delicado, cansativo e exigente “mas também de um dos mais belos e consoladores ministérios do sacerdote” (idem).

Surge, então, em toda sua beleza o perdão de Deus. Ao concedê-lo no intuito das almas, indica o acontecimento através de um sinal exterior. No decorrer dos séculos, a forma passou por um longo processo de desenvolvimento. Quanto “à substância do sacramento, permaneceu sempre sólida e imutável” (nº 30).

A clareza da doutrina, a segurança do magistério pontifício, fundamentado no 6º Sínodo, e a oportunidade do assunto – Reconciliação e Penitência – trazem o sopro de um novo ar à atmosfera eclesial. E com ele, a alegria ao fiel Povo Deus. Voltaremos ao assunto.