Catechesi Tradendae

25/03/2011 08:55

 

A ressonância diversificada que surge de pronunciamentos e atitudes eclesiais nos leva a uma ilustrativa conclusão. Somente quando servem a interesses de uma determinada tendência, adquirem maior destaque nos círculos que formam a opinião pública.

Assim sucedeu com a admirável Exortação Apostólica “Catechesi Tradendae”, “A Catequese no nosso Tempo”, do Papa João Paulo II, vinda a lume em Roma, a 16 de outubro de 1979. Embora tratasse dos rumos de uma atividade básica e fundamental, não alcançou a merecida repercussão.

A Catequese tem sido uma permanente preocupação da Igreja desde seus primórdios. A IV Assembléia Geral do Sínodo, que estudou esse tema, solicitara ao Papa Paulo VI um documento, como ele fizera anteriormente sobre a Evangelização. O trabalho foi começado. João Paulo I continuou e João Paulo II retomou a herança dos antecessores, dando-lhe a inconfundível marca do seu estilo e, ainda, fê-lo publicar. O assunto certamente será abordado com novas nuances no próximo Sínodo dos Bispos convocado pelo Santo Padre Bento XVI para outubro de 2012.

Todo o texto poderá ser resumido na afirmação inicial: “Nós temos um único Mestre, Jesus Cristo”. Por isso, é um cuidado constante do catequista “a doutrina e a vida de Jesus Cristo. Assim, ele há de procurar não atrair para si mesmo, suas opiniões e atitudes pessoais, a atenção e a adesão da inteligência e do coração daqueles que catequiza; e, sobretudo, ele não há de lhes inculcar as opiniões próprias e as opções pessoais, como se elas exprimissem a doutrina e as lições de vida de Jesus Cristo” (nº6).

O Santo Padre dá todo apoio à renovação, mas sem “acarretar dano à integridade do conteúdo” (nº17). Sobre esse assunto há muito que meditar inclusive no que se refere à catequese e teologia (nº61).

Outro aspecto marcante é a inserção do ensino na existência do Cristão. “Não se há de opor uma catequese a partir da vida a uma catequese tradicional, doutrinária e sistemática” (nº22).

Todo o esforço nessa matéria orienta o discípulo a relacionar, em profundidade, o que aprende à própria vida particular e pública. Na catequese, importa apresentar corajosamente o que o documento denomina “exigências morais e pessoais” (nº29). Para se obter tal objetivo, essencial a um desenvolvimento religioso e não meramente político e ideológico, “se evite reduzir Cristo à sua Humanidade e a sua mensagem a uma dimensão simplesmente terrena, mas que Ele seja reconhecido como Filho de Deus” (nº29).

Assim, o homem é levado à verdadeira libertação, conforme a “Evangelii Nuntiandi” (30-38). Ela abrange a luta pela justiça, mas como fruto do Evangelho e não como instrumento de opções terrenas.

O fato de toda uma vida fluir de determinada doutrina, inclui exigências sobre a pureza do seu conteúdo. Deve ser integral, pois “nenhum verdadeiro catequista poderia legitimamente fazer, por seu próprio arbítrio, uma seleção (...) para ensinar o ‘importante’ e rejeitar o resto” (nº30).

A metodologia é necessária, mas permanece um meio de transmitir a totalidade do ensinamento. Ecumênica, enquanto inclui sincero respeito aos outros mas não renuncia à doutrina completa: “Não poderá nunca significar uma ‘redução’ ao mínimo comum” (nº33).

A “Catechesi Tradendae”, no estilo de João Paulo II, dá normas, ainda, sobre os diversos destinatários da catequese; a revalorização das peregrinações, das missões populares, “abandonadas, muitas vezes, precocemente e que são insubstituíveis para uma renovação periódica e vigorosa da vida cristã” (nº47); os círculos bíblicos, as comunidades eclesiais de base, “na medida em que estas corresponderem aos critérios expostos na ‘Evangelii Nuntiandi’” (nº58).

Adverte sobre livros catequéticos: “quer pela omissão (...) quer, sobretudo, por uma perspectiva de conjunto demasiado horizontalista” (nº49) (...) “misturar indevidamente com o ensino catequético perspectivas ideológicas, sobretudo de natureza político-social, ou então opções pessoais” (nº52).

O Papa valoriza a piedade popular, as orações do povo simples, a memorização.

Esse documento nos fala de uma catequese que seja moderna, sem jamais usar “uma linguagem que engane ou que seduza”, e que transmita “todo o conteúdo doutrinal de sempre, sem deformações” (nº59).

A “Catechesi Tradendae” questiona profundamente nossa consciência de Bispo, pároco, religioso, catequista, da comunidade paroquial, da família, dos movimentos apostólicos, dos colégios católicos. Se há muito que agradecer a Deus pelo que se realiza, pelo trabalho desenvolvido, existem também correções a fazer.

Causa angústia pensar que todo o futuro da comunidade eclesial está posto sobre esse alicerce: a catequese.

Estamos todos nós – Sucessores dos Apóstolos, presbíteros, religiosos, agentes leigos da pastoral – ainda comprometidos com a hora presente? De nossa fidelidade dependerá a eficácia desse extraordinário esforço que ele faz por transmitir Cristo à Humanidade sofredora, insegura e angustiada.

A Exortação Apostólica “Catechesi Tradendae”, fielmente executada, mesmo com renúncia a posições pessoais, será um teste de nossa adesão à causa do Redentor.