Dom Eugenio recebe Comenda do Senado Federal

15/12/2011 11:40

Seis brasileiros foram distinguidos pelo Senado com a comenda Dom Helder Câmara, em reconhecimento pela contribuição que deram à luta em prol dos direitos humanos no Brasil. Dom Eugenio foi um dos agraciados e esteve representado por Mons. Sérgio Costa Couto. A condecoração foi entregue em solenidade realizada ao meio dia desta terça-feira (13) no Plenário da Casa. Clique aqui e leia a notícia (Agência Senado).

Abaixo, discurso profrerido por Mons. Sérgio Costa Couto:

 

Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara
concedida ao
Cardeal Dom Eugenio de Araujo Sales
Agradecimento

Mons. Sérgio Costa Couto
Senado Federal, 13 de dezembro de 2011

É uma imensa alegria para nós da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, em nome de nosso Arcebispo Emérito, receber esta comenda que une dois “cidadãos cariocas” dos quais muito nos orgulhamos. Cariocas, sim, não só pelos direitos dos títulos outorgados a esses dois nordestinos, mas, pela longa atuação em nossa cidade: Dom Helder ali viveu 28 anos (1936—1964), dos quais 12 como bispo-auxiliar, até ser nomeado Arcebispo de Olinda e Recife; Dom Eugenio Sales, lá está desde 1971. Dois homens unidos por uma profunda amizade de meio século; estilos pessoais e métodos diferentes, mas objetivos comuns. Eventuais divergências de opinião e voto, em alguma instância, nunca abalou minimamente tal fraternidade. Certa vez, referindo-se ao perigo que corria durante o período autoritário, Dom Helder disse: «eu não poderia ser quem eu sou, se Dom Eugenio não fosse quem ele é; um homem forte e respeitado…». Todos sabiam que tocar em Dom Helder, seria tocar em Dom Eugenio. Falando sobre aquele período, eu, pessoalmente, ouvi do Cardeal que “se Dom Helder fosse ameaçado, pegaria o primeiro voo para Recife”.

Neste ato, representando igualmente o atual Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, O.Cist., e por sua expressa  orientação, declaramos nossa profunda gratidão por várias iniciativas  sociais de Dom Helder no Rio, tais como A Feira e o Banco da Providência, a Cruzada e o Mercado São Sebastião; apenas para citar as que mais se destacaram e duram até hoje.

Estas iniciativas do então bispo-auxiliar do Rio de Janeiro, realizadas com o apoio do Cardeal Jayme de Barros Câmara, foram fortalecidas, quando do início do Governo Pastoral de Dom Eugenio de Araujo Sales, que trazia para o Rio de Janeiro a experiência do Rio Grande do Norte e da Bahia. É conhecido que algumas ideias do jovem bispo potiguar, tais como as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e a Campanha da Fraternidade, tomaram vulto nacional.

Muitas ações de Dom Eugenio foram consideradas fundamentais na vida da cidade do Rio, como foi o caso da Favela do Vidigal, cujos moradores não foram removidos graças à sua intervenção através da Pastoral das Favelas; a Pastoral do Menor, ambulatórios e abrigos para carentes, aidéticos… segundo a necessidade se apresentava. Enfim, uma ampla e silenciosa rede de assistência aos mais pobres que foi idealizada, levada a efeito e protegida por Dom Eugenio em seu longo governo de 30 anos em nossa Arquidiocese. Sem hostilizar os ricos, na ação social priorizava os mais pobres, tanto na assistência imediata, quanto na promoção social; não esquecendo de, serenamente, refletir sobre as causas da pobreza:

«O egoísmo dominante nos indivíduos e países impede uma justa distribuição dos recursos naturais. Cada um pensa em si e em sua nação, sem atender ao bem comum. Aqui se coloca o empobrecimento do Terceiro Mundo, em benefício dos mais ricos. E, no Brasil, a concentração de riquezas é crescente. Busca-se, em vez de justiça social, a diminuição dos que deveriam igualmente participar desses dons que Deus criou para todos os seus filhos". (Jornal do Brasil, 13/08/1994)

O Cardeal Sales, silenciosamente, como ele mesmo gosta de dizer, protegeu os presos políticos, ajudou-os materialmente e foi a sua voz junto às autoridades de então, e sempre foi ouvido pelo respeito de suas posições claras, não se comprometendo nem com os detentores do poder e nem com a luta armada (cf. D. Orani João Tempesta, Dom Eugenio — 90 anos, artigo em 06/11/2010). Muitos conhecemos histórias, vimos fotos da proteção e asilo dadas a perseguidos não só a nacionais, mas também dos países vizinhos E, lembro eu, nosso homenageado socorreu, protegeu pessoas cujas posições ideológicas estavam, por vezes, em nítido contraste com a fé católica, mas nossa mesma fé nos diz que o combate deve dar-se no campo das idéias e com Graça de Deus que tudo transforma e a  todos convence. Ao contrário, a vitória pelas armas pode ser falsa, temporária e aviltante, também para quem delas injustamente lança mão.

Por fim, quero encerrar com a Palavra de Deus, um texto que, resumidamente, Dom Eugenio tem como lema episcopal: Impendam et Superimpendam, tirado de São Paulo (2Cor 12,15).

Ego autem libentissime impendam et superimpendar ipse pro animabus vestris. Si plus vos diligo, minus diligar?

Quanto a mim, de bom grado despenderei, e me despenderei todo inteiro, em vosso favor. Será que, dedicando-vos mais amor, serei, por isto, menos amado?