Mãe de Deus e dos homens
Está terminando o mês de maio, especialmente dedicado a Maria. A Igreja sempre olhou para Ela com confiança filial. Desde a grandiosa proclamação do Concílio de Éfeso, em 431, reconhecendo a Maternidade divina da Virgem, até os nossos dias, a Fé da Igreja percebeu esse nexo profundo entre o parto virginal e a continuação de sua maternidade em relação a nós.
Mãe do Verbo Encarnado e Redentor dos homens, não poderia a Virgem desinteressar-se pela sorte daqueles que, pelo batismo, estão incorporados a seu Filho e, assim, são co-herdeiros do Reino dos céus.
Durante as celebrações do Concílio Ecumênico Vaticano II, o Papa Paulo VI afirmou solenemente que Maria é Mãe da Igreja, explicando a seguir, no seu “Credo do Povo de Deus”: “Nós acreditamos que a Santíssima Mãe de Deus, Mãe da Igreja, continua no céu a sua função maternal em relação aos membros de Cristo, cooperando no nascimento e desenvolvimento da vida divina nas almas dos remidos”.
O Santo Padre João Paulo II, em seu extraordinário magistério, acerca da Virgem Maria comentava e declarava: “Maria está presente na Igreja como Mãe de Cristo e, ao mesmo tempo, como a Mãe que o próprio Cristo, no mistério da Redenção, deu ao homem na pessoa do Apóstolo São João. Por isso, Maria abraça, com a sua nova maternidade no Espírito, todos e cada um na Igreja; e abraça também todos e cada um mediante a Igreja. Neste sentido, Maria, Mãe da Igreja, é também modelo da Igreja” (“Redemptoris Mater”, 47).
Não se trata de uma mera devoção sentimental, nem tampouco de simples questão de gosto pessoal. A piedade mariana deve fundamentar-se em sólidos ensinamentos bíblicos, para podermos acolher o dom da Redenção operada por seu Filho e encarar a realidade deste mundo em função da parusia, triunfo definitivo do Senhor e plenitude do Reino.
Vivemos momentos de profundas transformações no cenário internacional. Cresce o anseio pela paz e união dos povos. Situações antagônicas vêm sendo superadas, permitindo uma maior liberdade de fé, exatamente ali onde por muitos e duros anos ela foi perseguida com a tentativa de seu total aniquilamento. Contou, numa ocasião, em uma entrevista televisionada, o Superior Geral de uma grande Congregação missionária masculina, que teve a oportunidade de poder visitar um país do Leste europeu. Lá encontrou grande número de sacerdotes de sua Congregação, que ele mesmo até então desconhecia. Todos se prepararam, clandestinamente, por muitos anos. Com seus votos feitos, após estudos, realizados nos intervalos do horário de trabalho, nas fábricas, assim se ordenaram sacerdotes também às ocultas. Só com a liberdade religiosa, é que puderam manifestar-se às claras. O Padre Geral falava da alegria desses jovens ao celebrarem, publicamente, pela primeira vez, a Santa Missa! Assim floresce a religião, criam-se novas oportunidades para o anúncio do Evangelho, sente-se fome e sede de Deus!
Não podemos deixar de reconhecer, em tudo isso, o sinal da proteção materna daquela que vela por seus filhos. Enquanto isso, em nossas regiões ocidentais, às vezes entorpecidas pelo consumismo e debilitadas pelo materialismo, tem-se a impressão de uma crise de Fé, que menospreza os valores profundos do homem e deprecia a perspectiva do transcendente. Em decorrência, o enfraquecimento da estrutura moral põe em perigo a sociedade. Como no Leste europeu, confiemos a Ela a solução dos nossos problemas.
O Patrocínio de Maria se revela nas contradições da História. Como não pensar na mensagem simples e, ao mesmo tempo, evangélica das três fidedignas aparições de Maria, nos dois últimos séculos, que marcaram tão significativamente a devoção católica? “Oração, penitência, conversão”, declara a Senhora em Lourdes; “fazei penitência e rezai todos os dias o terço”, diz a Virgem em Fátima; “penitência e oração”, pedirá Maria em La Salette. Variam as fórmulas, os elementos são sempre os mesmos: a oração, que lança o homem no mistério divino, impedindo que ele se encerre nos estreitos limites de sua própria imanência; penitência que, longe de ser a atitude de buscar ações extravagantes ou espetaculares, significa, fundamentalmente, morrer a si mesmo, ao próprio egoísmo, não deixar-se dominar pelas paixões, mas ser senhor delas; e, por fim, conversão – a “metanoia” do texto evangélico – a indicar uma transformação interior profunda, uma mudança de perspectivas, escala de valores, decisões e opções, em uma palavra a nova criatura de que fala São Paulo, o homem novo transformado à imagem do Cristo (cf. Ef 4,22-24).
A mensagem de Maria em nossos dias outra coisa não é senão o eco do próprio Evangelho de seu Filho Jesus. Essa a verdadeira devoção mariana, aquela que se resume nas palavras de Cristo: “Convertei-vos e fazei penitência, está próximo o Reino dos céus” (Mt 3,2).
“Por fim o meu Coração Imaculado triunfará”, é também anúncio da Virgem relatado pela vidente de Fátima, a Irmã Lúcia, que foi carmelita descalça. Seguindo as indicações dessa mensagem, o Santo Padre João Paulo II, em união espiritual com os Bispos, consagrou o mundo inteiro ao Coração de Maria. Tal consagração implica no esforço sincero, por parte de cada um de nós, para assumirmos, como filhos, o seu ensinamento que outro não é senão o de Jesus: oração penitência e conversão real de coração e de vida.
No encerramento deste mês, dedicado à Virgem Maria é importante que os católicos renovem seu compromisso com Cristo, assumindo com coragem seus deveres batismais.
Realizemos, pois, em nossa vida o que pede o Vaticano II: “Dirijam todos os fiéis súplicas instantes à Mãe de Deus e Mãe dos homens, para que Ela, que assistiu com suas orações aos começos da Igreja, também agora, no céu, exaltada acima de todos os bem-aventurados e dos anjos, interceda junto de seu Filho, na comunhão de todos os santos, até que todas as famílias dos povos quer as que ostentam o nome cristão, quer as que ignoram ainda o seu Salvador, se reúnam felizmente, em paz e concórdia, no único Povo de Deus, para glória da Santíssima e indivisa Trindade” (“Lumen Gentium”, 69).