Dom Eugenio e os refugiados

 

Nos anos 60 e 70, em alguns países do Sul da América Latina, ditaduras militares foram implantadas, inclusive no Brasil. Assim como brasileiros procuravam países vizinhos, o Brasil foi procurado por perseguidos políticos do Chile, Bolívia, Uruguai, Paraguai e Argentina. Porque se vivia também numa ditadura, o Brasil considerava os refugiados tão subversivos quanto diziam que subversivos eram os brasileiros que procuravam o refúgio em outros países. Seria, portanto, difícil, o acolhimento dessas pessoas.[1]

Embora já no ano de 1975 a Caritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro já ajudasse de forma esporádica alguns refugiados, foi em 1976 que se iniciou um trabalho organizado porque havia um número cada vez maior de pedidos.

Naquele ano, uma solicitação formal do Vicariato da Solidariedade do Chile chegou à Arquidiocese para o atendimento de cinco chilenos, o que deu início a uma nova etapa. Dr. Cândido Feliciano, então diretor da Caritas Arquidiocesana, informou a Dom Eugenio sobre a nova demanda e o Cardeal apoiou a iniciativa comunicando sua decisão às autoridades militares. O atendimento a refugiados compreendia hospedagem e procura de formas seguras de encaminhá-los a outros países. O trabalho desenvolvido por Dom Eugenio e seus colaboradores contou com o apoio da Comissão de Justiça e Paz da CNBB e do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). Dr. Cândido ressalta que nenhum dos refugiados acompanhados pela Caritas arquidiocesana foi detido ou desapareceu no Brasil.[2]

Para assegurar o serviço prestado pela Arquidiocese, Dom Eugenio determinou que o “atendimento fosse realizado no Palácio São Joaquim e que apartamentos fossem alugados em nome da Mitra Arquiepiscopal do Rio de Janeiro, para que estivessem segura e condignamente alojados”.[3]

Em 1979 Dom Eugenio acolheu em sua residência no Sumaré refugiados que protestavam contra os regimes de opressão em seus países. Após desocuparem o Consulado da Suécia, sob negociação do Cardeal, eles lá permaneceram por mais de três meses até que alguns países os acolhessem. Ao partirem, Dom Eugenio os acompanhou, um a um, até a aeronave que os transportou para fora do país.[4]

Entre os anos 1976 e 1982, estiveram no Brasil sob a proteção de Dom Eugenio, mais de 4 mil refugiados perseguidos pelas ditaduras. Sua participação foi sempre decisiva e constante. Não se pode falar dessa época sombria sem deixar de citar sua importante colaboração.


 

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[1] MILESI, Rosa, Refugiados, realidade e perspectivas, Edições Loyola, SP, 2003, p.119.

[2]Idem, p.120

[3]MENEZES Brasil, R., Homenagem ao Pastor: cinqüenta anos de serviço à Igreja, Forense, RJ, 1996, p. 236

[4]Idem, p. 237.