A visão cristã do sexo
“A verdadeira educação pretende a formação da pessoa humana (...). Por isso, é necessário que as crianças e os adolescentes sejam ajudados em ordem ao desenvolvimento harmônico das qualidades físicas, morais e intelectuais, e à aquisição gradual dum sentido mais perfeito da responsabilidade na própria vida. E, portanto, formados numa educação sexual positiva e prudente, à medida que vão crescendo” (Declaração “Gravissimum Educationis”, nº 1).
Diante dessa afirmação, acrescentemos alguns critérios que possam ajudar a distinguir entre o certo e o errado numa reflexão mais aprofundada sobre o assunto.
Certas atitudes diante do sexo estão marcadas por dois excessos, errôneos e opostos entre si: o puritanismo protecionista e a permissividade libertária. Ambos encaram o sexo de modo puramente funcional, simples fonte de prazer. O primeiro para condená-lo, o segundo para exaltá-lo acima de qualquer medida ou norma. Um e outro consideram o pudor sob uma visão repressiva, ora alimentado pelos mecanismos do medo na falsa mentalidade puritana, ora combatido do ponto de vista da licenciosidade.
Uma concepção cristã distingue-se nitidamente destes dois lamentáveis extremos e firma a posição original segundo o plano divino. Na Bíblia, a sexualidade está ligada à imagem e semelhança do Criador como fonte de Vida (Gn 1,28) e expressão da dimensão social do Homem, chamado a constituir comunidade (Gn 2,18). A existência do pecado, separando a Criatura de sua referência, que é Deus, introduz a divisão (Gn 2,5) e acarreta à sexualidade consequências desastrosas. A relação sexual torna-se ambígua. Embora fundamentalmente boa, sofre os efeitos da desobediência à Lei do Senhor. Sem os valores absolutos que lhe dão sentido, divide e desorienta o homem.
Apesar de observâncias rituais ligadas a determinado contexto histórico e cultural, o Antigo Testamento jamais põe em dúvida a importância do relacionamento sexual autêntico através do matrimônio. Pelo contrário, sobretudo na tradição profética vem a ser um símbolo da relação do Senhor com o seu povo.
O Novo Testamento traz contribuição original e definitiva. Jesus Cristo redimensiona o sexo, incluindo-o na singular perspectiva trazida pelo Redentor (Mt 19,12). Proclamando a castidade como sinal do Reino que chegou, o Senhor substitui as minuciosas prescrições da Lei por uma significação nova do conceito de pureza (cfr. Mt 7,1-23). Afirmando positivamente o valor da pureza do coração, marcado pelo pecado (Mt 5,28; 15-19).
São Paulo, que é injustamente acusado de ser hostil ao sexo, vivendo em ambiente dissoluto – o grande porto de Corinto – se insurge contra o aviltamento tão característico daquele tempo, como também o faria na atualidade (1Cor 6,9 – cfr. Rm 1,24-27). Dá diretrizes absolutamente válidas ainda hoje (1Cor 7,1-6). A Verdadeira educação para o amor deverá sempre partir dos princípios por ele levantados: o processo de formação brota da experiência de uma vida nova, da criatura salva por Cristo e inserida em seu Ministério, templo do Espírito Santo (1 Cor 6,12-20; Rm 13,14; Gal 5,16-19).
Na evolução do pensamento cristão, os Padres da Igreja apresentam, é certo, elementos condicionados à ambiência da degradação pagã, à polêmica da luta contra os erros rigoristas ou de laxismo que grassavam na Comunidade eclesial e à influência da filosofia pagã ambiental neo-platônica e estóica. Mas expunham também a doutrina do Evangelho, orientando o cristão não para uma repressão, mas para uma atitude sobrenatural de valorização do sexo, integrando-o num contexto mais amplo que é a Pessoa Humana, santificada pelo Batismo.
Com o desenvolvimento da atual antropologia de orientação personalística, novos elementos vêm-se juntar ao ensinamento da Fé, não para negá-la, mas para enriquecê-la e aprofundá-la. O homem é uma unidade, de maneira que o sexo jamais pode ser considerado como um sistema autônomo. E o ser criado encontra na abertura para Deus seu centro de identidade e de realização. Retoma-se, assim, com força renovada, a visão da sexualidade integrada em valores maiores: o amor, a família, o cônjuge fiel, a fecundidade. O pudor não representa mera reação repressiva, mas um procedimento natural de proteção de tais princípios.
A moral cristã do sexo deve ter seu fundamento em uma visão clara e lúcida onde a luz orientadora da Revelação se harmoniza e enriquece com as contribuições da verdadeira ciência e da sã filosofia.
Há, hoje em dia, toda uma literatura que parece ignorar essas diretrizes. Não é difícil conseguir estudos que abordem o assunto da educação sexual. Mais raro é encontrar trabalhos que constituam uma autêntica formação cristã para o amor, ao mesmo tempo aberta e personalizante, sem se afastar do sentir da Igreja.
Até mesmo publicações audiovisuais religiosas, com intenção educativa, confundem o pudor com o medo, o controle com a repressão, preconizando falsa e nefasta libertação sexual que a nada conduz, para engano e prejuízo daqueles que a elas recorrem. Devem ser corajosamente rejeitadas. Assim o reclama nossa fidelidade ao Evangelho de Jesus Cristo.
Busquemos, pois, aprimorar o dever de educar, que pertence primariamente à família, mas que precisa da ajuda de toda a sociedade.