A sociedade e os consagrados

25/06/2010 22:14

 

O Santo Padre Bento XVI encerrou no dia 11 de junho as celebrações do Ano Sacerdotal. Na Praça de São Pedro estiveram com o Sumo Pontífice quinze mil padres de várias partes do mundo. Em sua homilia expressou a grandeza e o significado do ministério sacerdotal: “o sacerdote faz algo que nenhum ser humano, por si mesmo, pode fazer: pronuncia em nome de Cristo a palavra da absolvição dos nossos pecados e assim, a partir de Deus, muda a situação da nossa vida. Pronuncia sobre as ofertas do pão e do vinho as palavras de agradecimento de Cristo que são palavras de transubstanciação – palavras que O tornam presente a Ele mesmo, o Ressuscitado, o seu Corpo e o seu Sangue, e assim transformam os elementos do mundo: palavras que abrem de par em par o mundo a Deus e o unem a Ele” (Bento XVI, Homilia na missa de encerramento do Ano Sacerdotal, 11 de junho de 2010).
 
Dos males que afligem este mundo, cumpre descer às raízes. Em vez de lamentar sua expressão, urge buscar a origem. O ideal de uma vida na sociedade de consumo, onde a satisfação dos sentidos tem lugar preeminente, diverge profundamente do programa ensinado pelo Mestre.
 
Como diz São Paulo, “a Fé vem pelo ouvido”. Que fazer se não há pregadores do Evangelho em número suficiente? E sem eles, como agir frente aos descalabros que muitas vezes nos assolam? “Deus serve-Se de um pobre homem a fim de, através dele, estar presente para os homens e agir em seu favor. Isto é o que de verdadeiramente grande se esconde na palavra ‘sacerdócio’” (idem).

O ambiente de violência, marcado pelo hedonismo, eivado de discórdias pela falsidade no relacionamento humano, e o egoísmo reinante estão a reclamar pela multiplicação de pessoas que abracem outro modo de ser, constituindo, assim, um sinal de Cristo. A figura do sacerdote é, por si, um apelo a outra realidade, um marco que revela o caminho do Evangelho, um divisor de águas. Por isso, neste mês em que celebramos o encerramento do Ano Sacerdotal, gostaria de recordar, além do modelo e patrono dos sacerdotes, o Santo Cura d’Ars, outras cinco figuras que viveram uma consagração total, quer no Sacramento da Ordem quer na Vida Religiosa. Seus exemplos são resposta a um meio social decadente e também indicador de esperança.

O primeiro vulto é o Beato José de Anchieta. Brilhante aluno da Universidade de Coimbra, como tantos outros, percebeu, pelas cartas que do Oriente São Francisco Xavier enviava, a beleza e o encantamento do ideal missionário. Veio para o Brasil. Nem soldado, nem comerciante, mas conquistador de almas para conduzi-las ao Senhor. O outro, o Padre Maximiliano Kolbe, salvou um companheiro do infortúnio no campo de concentração de Auschwitz, oferecendo, em seu lugar, a própria vida. Depois é São Francisco de Assis, com sua nobre missão de se entregar à causa dos pobres. Todos eles foram o bom fermento que conseguiu levedar a massa. As duas personagens seguintes são Santa Teresinha e Irmã Teresa de Calcutá. Em campos diferentes – a vida contemplativa e a caridade cristã – proclamam a grandeza do serviço a Deus e ao próximo.

Ao apresentar essas figuras, afirma-se a existência de outra realidade, bem diversa daquela que vemos no dia-a-dia, provando que há indivíduos dispostos, pela consagração, a lutar por algo melhor.

O entusiasmo pelo progresso da técnica, da ciência, o heroísmo e os nobres ideais despertam em muitos jovens o desejo do sacrifício para alcançá-los, mesmo à custa de uma abnegada doação de si mesmo. Não os atemoriza o total domínio, a disciplina para atingir a meta que os empolgam. Como uma aventura cujo fascínio nunca desaparece, é o chamado do Redentor para que alguém siga seu exemplo, enverede pelo caminho que trilhou até à morte e continue a realizar hoje sua missão salvadora. O Mestre não pede migalhas. Não! O Cristo exige de seus apóstolos tudo, simplesmente tudo. Não solicita serviços, mas quer para si e sua obra o servidor, na totalidade de seu ser. Não pede algum trabalho, mas Ele precisa de pessoas inteiramente doadas. Diz o Evangelho: “Eles largaram tudo e O seguiram” (Lc 5,11).
 
Quem se dispõe a carregar, com o Salvador, a cruz dos irmãos, oferta todas as suas energias. Assim, ele dá uma nova vida a este mundo velho, cansado, ferido pelas chagas do ódio e do fratricídio.
 
Quem atende o convite à consagração, no Sacerdócio ou na Vida Religiosa, sabe que irá proclamar e incutir a certeza da Palavra divina, que é ameaça de Deus aos que destroem a dignidade dos homens: os injustos, os violentos, sedutores e opressores, todos esses que ignoram nos mais fracos a divina imagem tantas vezes ultrajada e ofendida. Além disso, essa juventude percebe que jamais a espera o paraíso nesta terra. Diz São Paulo: “Se nossa esperança fosse apenas para esta vida, seríamos os mais miseráveis de todos os homens”.
 
Somente quem tem Fé entenderá aqueles que, prostrados diante do altar, por livre opção, se entregam a esse serviço de Cristo. Eles são instrumento para que a face do Senhor comece a resplandecer no semblante de muitos irmãos, anunciando a esperança que nunca morre.
 
O Ano Sacerdotal desperta a consciência da sociedade para a importância de uma consagração que questiona a degradação em que muitos vivem e, ao mesmo tempo, fala de valores. Para a Igreja, as Vocações Sacerdotais e Religiosas são uma forma própria da singular fecundidade eclesial. É a Mãe que gera os continuadores da missão do Fundador. Elas demonstram o vigor, sinal do mundo novo que deve surgir e que, de modo incipiente, já está presente em nossos dias.