Copa do Mundo

11/06/2010 22:34

 

Esta Copa Mundial da Federação Internacional de Associações de Futebol (FIFA) que está começando repercute intensamente em todo o mundo, movimenta milhões de pessoas. Ela é um acervo de esperanças e desilusões, lágrimas e alegrias. Exige a organização de uma pirâmide fantástica que, partindo de tantas nações, busca um único vencedor. Aficionados ou não a esse esporte, os países são atingidos, com repercussões profundas no ritmo de vida dos cidadãos. O acontecimento bem merece uma reflexão evangélica, que nos ajude, vitoriosos e vencidos, todos os de alguma forma participantes, a refletir sobre lições e aproveitá-las para crescer espiritualmente e mesmo sob o aspecto esportivo.

Os primeiros vestígios dos exercícios físicos como precursores da vasta gama de jogos individuais ou em equipe, com regras precisas, ascendem a cerca de trinta séculos antes da era cristã, no Oriente. Foram sistematizados na Grécia clássica, onde se celebravam as Olimpíadas, de quatro em quatro anos. Novos rebentos surgiram e, sem dúvida, o mais popular e difundido hoje é o futebol, que atinge intensamente a opinião pública mundial.

Na Sagrada Escritura há um trecho atinente ao assunto. A Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios emprega o exemplo dos estádios para estimular os cristãos a serem fieis ao Evangelho. E comenta: “Os atletas se abstêm de tudo; eles, para ganhar uma coroa perecível; nós, para ganhar uma coroa imperecível” (9,24-27). O Apóstolo retoma a comparação em outras oportunidades.

A expansão dessas competições, como a atual Copa do Mundo, caracteriza a sociedade do bem-estar, da abundância, do afluxo de bens materiais que permite a movimentação de massas e enormes despesas. É também o fenômeno típico da modernidade nas proporções que hoje apresenta. Trata-se de uma imensa força, que pode ser utilizada para a propagação do bem.

A visão cristã, mencionada por São Paulo em sua carta aos Coríntios, tem, em nossos dias, uma aplicação que deve ser recordada. Refiro-me às considerações, diretrizes do Concílio Vaticano II na Constituição Pastoral “Gaudium et Spes”, ao tratar da educação para a cultura integral do homem: “Empreguem-se bem os lazeres para o descanso do espírito e para consolidar a saúde da alma e do corpo”. Entre outros meios, isso também é obtido “através de exercícios e apresentações esportivas, que auxiliam a manter o equilíbrio do espírito, também na comunidade, e ao estabelecer relações fraternais entre os homens de todas as condições, nações e raças” (nº 61).

A essa orientação conciliar, dada a toda a Igreja, vem se acrescentar as manifestações do Magistério eclesiástico. O atual Pontífice Romano, ao receber atletas em audiência, apresenta sempre uma palavra de estímulo aos benefícios que podem advir das competições, como também de advertência para os aspectos negativos a serem evitados.

O campo de futebol e toda a complexa estrutura organizativa que serve de base condicionam e estimulam o exercício das virtudes cristãs.

O bom profissional ou amador, no campo de futebol, não é avaliado apenas pelo número de gols que faz. Com a fantástica máquina publicitária, o herói dos estádios assume, queira ou não, um compromisso ético com a comunidade. Quem se torna exemplo que empolga os homens não pertence unicamente a si mesmo. Deve ter consciência de ser um estímulo, para o comportamento de outrem. Por isso, a educação social e moral, a formação de caráter, em diversos aspectos, são fundamentais em um esporte. Isso também é do seu interesse. O sucesso nas partidas de futebol não depende exclusivamente do vigor físico e técnico, mas também de procedimentos que são fruto de virtudes cristãs. Colocar o bem da equipe sobre a exaltação da vaidade pessoal, o trabalho em conjunto em contraposição ao egoísmo, o controle dos impulsos desleais, da violência e tantas outras atitudes negativas, são essenciais ao êxito no gramado. Muitas vezes, mais que se pensa.

Para alcançar esse padrão elevado, é imprescindível uma visão cristã do esporte. Ele tem uma dimensão de espiritualidade que é o alicerce da disciplina e fator de êxito. O respeito ao adversário respaldado na dignidade da pessoa humana coíbe a praga da brutalidade no campo, que é sinônimo do espírito antiesportivo e descontrole de comportamento.

Independentemente da vitória final, vejo esta Copa do Mundo como um fator valioso para o Brasil. Forças latentes surgem. O amor à Pátria, tão importante na vida de um povo, recebe, nesta época, extraordinária contribuição. O entusiasmo por causas sadias, a condenação às manifestações antiéticas, são elementos válidos na promoção de uma antropologia cristã. O conceito de “homem” como imagem de Deus, sob os mais variados aspectos, está presente, embora de maneira velada, nas competições da Copa. Há grandes vantagens, evidentemente. E entre elas, a alegria do povo, as esperanças. Em uma visão cristã, todas podem nos levar a Deus.

“Que o futebol seja cada vez mais um instrumento de educação nos valores da honestidade, da solidariedade, da fraternidade, especialmente entre as jovens gerações” (Bento XVI, Audiência Geral de 9 de janeiro de 2008).